Introdução

Os caprinos são produzidos numa grande variedade de sistemas de produção e ambientes que vão desde as florestas tropicais húmidas a desertos secos e têm uma importância económica considerável em várias regiões do globo. Esta grande dispersão é possível pela sua capacidade de adaptação a ambientes desfavoráveis assente numa maior resistência ao stress térmico e sede e melhor utilização e capacidade de digestão de diferentes pastagens. Por outro lado é uma espécie animal fornecedora de vários produtos como carne, leite, lã (fibra) e pele. Este artigo pretende resumir algumas das particularidades da fisiologia reprodutiva dos caprinos.

Sazonalidade

A reprodução dos caprinos é comummente descrita como sendo sazonal, isto é, a função reprodutiva tem uma época relativamente definida, sendo que nos restantes períodos a função reprodutiva pode estar comprometida em maior ou menor grau. O início e duração da época reprodutiva estão dependentes de vários factores como a latitude, clima, raça, estado fisiológico, presença do macho, sistema de produção, mas sobretudo pelo fotoperíodo.

Esta influência, baseada nas diferenças da duração do dia ao longo do ano, é comum a outros pequenos ruminantes como os ovinos. Sendo a variação anual da duração do dia tanto maior quanto maior a latitude, as estações reprodutivas são naturalmente mais marcadas nas regiões mais afastadas do equador. Nas zonas equatoriais alguma variação da actividade ou eficiência reprodutiva estão mais ligadas a outros factores como a disponibilidade alimentar e variações de temperatura e pluviosidade.

A actividade reprodutiva das cabras é identificável pela actividade ovulatória espontânea e demonstração de comportamento sexual. Em latitudes altas e alguns casos de latitudes sub-tropicais na estação sexual são observados comportamentos de cio (estro) e ciclicidade ovárica enquanto que na contra-estação sexual não se observam cios nem ovulações. Nos períodos de transição podem ser observadas situações intermédias como cios sem ovulações (estros anovulatórios), ou ovulações não acompanhadas de comportamento de cio (ovulações silenciosas). A exposição aos machos pode aumentar a época reprodutiva antecipando-a ou prolongando-a no tempo.

Nos machos a sazonalidade é usualmente menos marcada podendo estes reproduzir-se todo o ano, no entanto, a sua actividade sexual e produção espermática são maiores na estação reprodutiva.

Ciclo éstrico

O ciclo éstrico consiste nas alterações morfológicas e fisiológicas no tracto genital que conduzem: i) ao aparecimento do cio (estro), a fase de receptividade ao macho; ii) à ovulação e, iii) à preparação do tracto genital para a cópula, fertilização e implantação embrionária.

A duração do ciclo éstrico, definida pelo intervalo entre dois cios sucessivos é em média na cabra, de 21 dias, mas esta espécie apresenta uma elevada variabilidade neste parâmetro com casos observados, em fêmeas na estação reprodutiva, em que mais de 20% da fêmeas apresentam ciclos curtos (cerca de 8 dias) ou longos (cerca de 39 dias). Nas épocas de transição entre a contra-estação sexual e a estação reprodutiva é também comum o aparecimento de ciclos mais curtos, sobretudo em situações de indução de ovulação e estimulação pelos machos (efeito macho).

Cio (estro)

O comportamento de cio tem duas fases: pró-receptividade e receptividade. Na primeira as fêmeas procuram e estimulam os machos, na segunda as cabras apresentam o reflexo de imobilização em resposta à corte do macho, permitindo a monta e cópula. Com o avançar do cio os comportamentos são simultâneos. A duração do cio na cabra é em média, de 36h mas pode variar dependendo da idade, indivíduo e raça (há valores médios registados entre as 20h e as 58h para diferentes raças), estação e presença do macho (em caso positivo e com ocorrência de cópula, o cio tende a ser mais curto). Normalmente a ovulação ocorre na fase final do cio.

Cópula, fertilização e gestação

A cópula ocorre durante o cio, geralmente antes da ovulação pelo que quando esta ocorre podem já estar espermatozóides no oviducto, local onde se dará a fertilização. Outros espermatozóides ficam retidos na cérvix (colo do útero) sendo libertados gradualmente para o útero nas horas/dias seguintes à cobrição. Os óvulos permanecem viáveis entre 10 e 25h. Os embriões chegam ao útero 4 a 5 dias após o cio no estado de mórula e a sua implantação ocorre entre os 18-22 dias após o início do cio. Diferentemente à ovelha, a gestação da cabra é dependente da progesterona ovárica (corpo lúteo) até ao seu final. A gestação da cabra dura em média 149 dias mas pode variar de acordo com a raça, peso das crias, estação do ano e número de partos da fêmea.

Parto

O parto da cabra dura cerca de 5h. Grande parte desse processo (cerca de 4h) correspondente à dilatação da cérvix (não visível) e parte da contracções uterinas, muitas vezes acompanhadas de balidos e outros sinais de proximidade do parto, como desconforto evidente, mudanças frequentes de posição, etc. A expulsão das crias dura entre 30 a 60 minutos. A placenta deve ser expulsa até 12h após o nascimento das crias. Num processo normal a cabra lambe e seca as crias e estas tentam levantar-se pouco depois de nascerem para mamarem o colostro, de extrema importância para a sua sobrevivência.